quarta-feira, junho 04, 2008

Requiem

"Viam a luz nas palhas de um curral,
Criavam-se na serra a guardar gado.
À rabiça do arado,
A perseguir a sombra nas lavras,
aprendiam a ler
O alfabeto do suor honrado.
Até que se cansavam
De tudo o que sabiam,
E, gratos, recebiam
Sete palmos de paz num cemitério
E visitas e flores no dia de finados.
Mas, de repente, um muro de cimento
Interrompeu o canto
De um rio que corria
Nos ouvidos de todos.
E um Letes de silêncio represado
Cobre de esquecimento
Esse mundo sagrado
Onde a vida era um rito demorado
E a morte um segundo nascimento."

Miguel Torga

Barragem de Vilarinho da Furna
18 de Julho de 1976

E o que acontecerá quando este mundo rural passar a ser apenas uma memória de uma identidade cultural portuguesa, engolida pelo progresso?

3 Comments:

At 2:09 da tarde, Anonymous Anónimo said...

O que vai ficar desse mundo rural que por certo vai acabar em todos os lugares? O que teremos aprendido com ele? O que faremos para que não seja esquecido?

 
At 3:46 da tarde, Blogger Mr X said...

o fim do mundo anda aí!

 
At 10:40 da tarde, Blogger Rita Inácio said...

Sérgio
Eu comecei a registá-lo!
E estou a fazer um diário de viagens rurais... E gosto de viver no mundo rural, e afastar-me de tudo o que é progresso... Gosto de me sentir livre!

Mr.X
Achas?

 

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