quinta-feira, maio 25, 2006

“Olha o raminho da Espiga!”

Ao acordar, reparei, que através da vidraça, o sol batia no meu rosto, … iluminava-o com uma luz amarela sobre o travesseiro, a mesma luz que ficou no mesmo lugar aquando a minha ausência! Espreguicei-me, o mesmo gesto que é feito um pouco por todo o mundo, ao acordar!
Fiquei Feliz! Uma estranha felicidade fez-me sorrir, embora o extremo cansaço pelas poucas horas de sono. Como sempre, corri para apanhar o autocarro, e comecei mais um dia, supostamente, igual a todos os outros…
Cheguei à estação dos Comboios e lá estava a razão da minha Felicidade! No lugar dos usuais vendedores matinais, que apregoam “5 euros, é só 5 euros”, encontravam-se cestos com uma paleta de cores muito familiar. O lugar das camisolas, das malas, dos sapatos, estava invadido pelas espigas, pelos amarelos e pelo vermelho das papoilas, … e saudosamente pensei na minha Terra. Apanhei o comboio com o mesmo sorriso saudosista, … e cheguei à outra estação! Ao chegar, mais cestos, mais espigas, mais pregões, mais amarelos, mais vermelhos das papoilas, e uma certa voz que se destacava de todas as outras, e dos murmúrios da cidade! Uma criança, uma menina, que gritava mais alto que todos “Olha o raminho da espiga”, e como foi bom ouvir aquela voz! Regressei ao passado, lembrei-me de como neste dia, eu corria para o campo para fazer a mais bela espiga, senão a mais bela, a maior, e levá-la para a escola mostrando-a a toda a gente, …, mostrando que tinha tudo o que precisava para fazer uma espiga, … e que isso me fazia sorrir. Lembrei-me da minha Mãe, de como Ela, quando me esquecia do dia da Espiga, preparava cuidadosamente um raminho para eu ter e levar para a escola. Lembrei-me do meu Pai de como Ele sorria por, após mais um dia de trabalho, eu corria até ele, dava-lhe um beijo e lhe mostrava calorosamente o meu raminho. Lembrei-me do meu Tio, que continua e continuará a ser um menino, que apanha a espiga, que quando me vê, mesmo que já tenha passado dias, chama-me sempre “Rita, Rita Limão, tens que ir ver a minha espiga, … olha e apanhei um raminho para ti”. Lembrei-me da minha vida, da minha infância, do meu mundo, … dos meus momentos de menina.
Cheguei ao Chiado, local onde, actualmente, passo a maior parte do tempo, … e qual não foi o meu espanto quando vejo, por entre os característicos cinzentos da cidade, pequenos pontos amarelos, … eram mais espigas, mais cestos com as tradicionais espigas do dia da Ascensão! Fiquei tão Feliz, … Lisboa fora invadida pelas cores do meu Ribatejo, as cores que estou habituada a ver, o cheiro que sinto sempre que volto à terra, … o meu Ribatejo estava ali, em plena cidade, tão longe de mim, mas ao mesmo tempo tão perto, … nem que fosse a lembrança das papoilas que me habituei a ver pela janela do meu quarto, … ou do ramo de oliveira que partia para dar aos animais sem a minha mãe ver, … estava ali, em pleno Chiado o Ribatejo que me viu crescer, que fez a mulher que hoje Sou!

Sinto-me Feliz, e por isso revesti-me com as cores do meu Ribatejo, para sentir que estou em casa, sentir que estou no meu mundo, nas minhas cores, sentir o Cheiro da Terra, … daquele lugar que será sempre o meu Lugar!